Blog direcionado a todas as pessoas que se interessam por Zoologia.
segunda-feira
TEXTO 1 - ADAPTAÇÕES DE INVERTEBRADOS TERRESTRES
Todo ser vivo precisa de um meio para se desenvolver e realizar as funções essenciais para sua existência. Este meio corresponde ao ambiente físico, que vai exercer uma pressão sobre o organismo, de forma que ele deva estar ajustado para viver com o menor custo energético e máximo de eficiência.
Todos sabem que a vida começou na água, provavelmente nos mares primitivos, tendo evoluído em diversas condições até a conquista do ambiente terrestre.
Entre os seres vivos que se adaptaram a vida fora da água, as plantas e muitos vertebrados, tem seus registros fósseis passiveis de serem recuperados, remontando a história evolutiva, porém no que se refere aos invertebrados, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas, principalmente as formas de corpo mole, sem uma estrutura esquelética. É sobre os invertebrados que teceremos algumas considerações sobre as adaptações ao meio terrestre.
A vida primitiva originaria na água apresentava uma série de vantagens para o organismo, considerando que aquele ambiente é bem mais estável em termos de constância dos fatores físico e químicos, quando comparado com a água doce e, principalmente o meio terrestre, servindo de suporte para as espécies.
Há uma gradação que aumenta o nível de estresse, quando se sai do ambiente marinho, passando para o dulciaquicola até chegar a terra, quando isto ocorre, temos a “Terrestrealização” termo empregado por Simões, para descrever o processo evolutivo que levou os organismos aquáticos, através de uma série de adaptações e pré-adaptações, a evoluírem para sobreviverem no ambiente terrestre, sem dependência da água (Simões). Mas que adaptações foram estas? Sem dúvida que todas relacionadas com a necessidade de evitar a perda de água por parte dos organismos, principalmente.
A principal delas diz respeito ao isolamento do meio interno para o meio externo, pois antes, o meio circundante não oferecia restrições, agora o animal necessita manter os fluidos corporais estáveis e evitar a perda de água. Isto foi possível com um revestimento externo observado em alguns animais, como a concha dos gastrópodes ou o exoesqueleto dos artrópodes. Geralmente este revestimento é recoberto por uma camada cerosa de lipídios, criando condições hidrofóbicas, de modo a impermeabilizar a superfície corporal.
A presença desse revestimento, que passaremos a chamar cutícula criou uma limitação aos invertebrados que a possuem: o crescimento. Em função disso, uma inovação foi adquirida pelas espécies portadoras de cutícula: o processo de muda ou ecdise.
Outra forma de resolver a questão da perda de água através da superfície corporal, para as espécies desprovidas de uma cutícula, foi a redução do tamanho corporal, como nos platelmintos e muitos asquelmintos, além de adaptações para se camuflar, ficando próximo da cor do ambiente;
Outro aspecto importante nesse processo foi a respiração, que antes era realizada por meio de brânquias, porém este tipo de estrutura que está especializado em retirar o oxigênio da água, necessita de um meio fluido para se manter funcional, o que não ocorre na terra, além disso, a exposição levaria a perda de água pela superfície branquial, exatamente o que um invertebrado terrestre precisa evitar. Logo, a solução foi ocorrer um processo de invaginação, passando a estrutura respiratória a ficar localizada internamente, evitando assim a perda de água e, passando a capturar o oxigênio do ar atmosférico.
As estruturas relacionadas com este tipo de respiração são observadas nos insetos – traquéias e nos quelicerados – pulmão foliáceos. Alguns grupos, pelo tipo de ambiente vivente e tamanho corporal, podem carecer de uma estrutura especializada, funcionando a própria pele para as trocas gasosas, por meio de uma respiração cutânea, mas para isto, há necessidade da epiderme ser lisa e glandular e o invertebrado vivem em áreas úmidas.
Outro tipo de estrutura que evoluiu para as trocas áereas foi a cavidade palial dos gastrópodes que passaram a viver na terra, formando assim, um pseudopulmão.
Além da respiração, outro processo que requer água é a excreção dos animais aquáticos, pois geralmente é liberado em maior proporção amônia, um composto solúvel em água. Para resolver este problema, os animais terrestres mudaram o produto final da excreção, passando a liberar outros tipos de base nitrogenada que não requeresse tanta água, como o ácido úrico e a guanina.
Aspecto relevante diz respeito a reprodução, que ocorria diretamente no meio externo, sem necessidade muitas vezes de acasalamento. Agora, visando garantir a perpetuação das espécies, o processo reprodutivo passou a ser mais complexo, envolvendo transferência direta ou indireta de material espermático, ocorrendo geralmente a fecundação interna e a supressão do estágio larval.
As espécies de invertebrados terrestres são influenciadas positiva e negativamente pela ação dos fatores climáticos, levando a condicionar padrões de comportamento como estratégias para sobreviver ao ambiente terrestre. Além das adaptações para conquistar o meio terrestre, muitas espécies de invertebrados vivem em áreas onde as condições ambientais flutuam, sendo necessário adquirir estratégias que possibilite sua sobrevivência, é o caso das áreas alagáveis, como a Amazônia (ADIS, 1997), onde os invertebrados são terrícolas ou arborícolas, realizando migrações durante os períodos de cheia dos rios.
Esta necessidade de se ajustar ao ambiente, fez com que algumas espécies, criassem aspectos próprios, alterando muitas vezes o “bauplan” (BRUSCA E BRUSCA, 2007), primário do grupo, sendo estas características transmitidas a descendência, fazendo com que suas espécies adaptadas sobrevivem.
Cláudia Valéria da Silva
Biológa especializada em Aquicultura e Mestre em Biologia Animal. Atuando em Zoologia, Ecologia, Educação Ambiental, Biogeografia e Metodologia Científica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário